domingo, 19 de junho de 2011

House, um deus grego?


Via de regra, quando as mulheres se referem a um homem como um deus grego estão se referindo à beleza estonteante do espécime. No caso da minha comparação com o personagem House nada tem a ver com a estética, mas sim com suas características emocionais. Várias delas são muito parecidas as de  alguns dos deuses gregos. Não tenho nenhum conhecimento específico sobre mitologia grega, o que sei é bem superficial, mas acho que já dá construir uma reflexão, sem ser leviana. Alguns dos deuses gregos tinham características bem marcantes de egocentrismo, eram vingativos, sádicos e "usavam" os "mortais" para satisfazer seus prazeres. Eram temidos, tinham poderes de destruição e quando contrariados voltavam sua ira contra os chamados "mortais". Vários desses deuses pareciam crianças mimadas. Se não tinham seus desejos atendidos prontamente se jogavam no chão, gritavam através de raios, trovões, tempestades, se vingavam. Havia, também, muita disputa egóica entre os pares. O Olimpo estava longe de ser um lugar de paz, solidariedade e sabedoria, era um meio instável. Mas, se formos observar mais imparcilamente, as características emocionais dos deuses gregos nada mais eram do as características comuns do seres humanos só que potencializadas. Todos somos egocêntricos e reclamões, todos ficamos frustrados quando nossos desejos não são atendidos prontamente. Quem já não teve desejo de vingança contra alguém que o magoou? Mas como nos tornamos pessoas adultas, com necessidade de conviver em sociedade, em ambientes familiares e corporativos temos que aprender a lidar com esses sentimentos, com essas frustrações. Esse aprender a lidar não é necessariamente rerpimir, fingir que não sente, mas reconhecê-las e fazer algo por si. Somos mortais, se não fizermos isso nossa colheita afetiva será muito pobre e precisamos dela. Só que o personagem de House não precisa fazer nada disso para ter a colheita afetiva. Ele pode lidar com as pessoas tal qual os deuses gregos. Tudo começa por sua equipe de trabalho. Os trata com desdém, os expõe ao ridículo, e de maneira sádica, invasiva, quer sempre tirar uma confissão de alguma aparente fraqueza, tragédia ou sordidez de suas histórias de vida. E o mais interessante é que os personagens médicos, membros de sua equipe são tão insípidos. Nenhum deles cativa, se o personagem for substituído não fará falta alguma, são fantoches na série. Sua principal serventia é para criar um contexto para que o lado divino de House possa ser mostrado. House tem o poder  da cura. Ele não faz isso diretamente, mas seu saber é tão especial que acaba salvando vidas E os pacientes e familiares, como são explorados na série. Também são uns bobões. House trata a todos com desdém e estupidez. "Cutuca" a todos, faz procedimentos invasivos, tanto invasões emocionais como com aquela batelada de exames e remédios que ele vive entupindo nos pecientes. Ele só se dá por satisfeito e só consegue "a cura" quando descobre algo bem sórdido. Algo que satisfaça seus desejos de reafirmar a degradação e a podridão do ser humano. A célebre frase de House: todos mentem, é a mais pura verdade. Todos nós, sem exceção, mentimos e escondemos coisas sobre nossas vidas, e temos nossos motivos para isso. Desde algo banal, do dia a dia, até hábitos e histórias de vida bizarras. Mas House, como é um deus, pode fazer isso. Escancarar sem pedir licença ao que é mais humano no paciente. Então, mesmo com a tortura, o egocentrismo, o sadismo, os procedimentos invasivos, House é colocado em seu altar. É comum no final do episódio a Coddy dizer: House salvou mais uma vida. Obviamente que para eu estar escrevendo sobre a série é porque a assisto e me fascina como um personagem tão vil pode fazer tanto sucesso. Muitas vezes ao terminar de assistir ao episódio sinto até raiva de mim por ter perdido tempo, mas não sei explicar o que acontece se estiver passando eu assisto. House é certamente um personagem que fascina, por diversos motivos, que nada tem a ver com a realidade objetiva, e sim com identificações subjetivas ou mesmo satisfação de desejos jamais confessados. Acho que os deuses gregos tinham essa representação para aquele povo, como talvez o personagem House tenha para nossa cultura ocidental. Alguém absurdamente desprezível mas com um lugar de destaque na sociedade, com o aval social para poder viver o lado mais obscuro do ser humano. Talvez, em alguns momentos, até gostaríamos de ser como o persongagem. Porém  esse  aval só existe porque ele tem um poder. O poder de salvar vidas. Realmente um deus.

4 comentários:

  1. Patricia,

    Também sou uma fã desse seriado! E concordo com suas colocações, o House é a materialização de tudo o que a gente já pensou em fazer um dia, mas não pode...
    "Alguém absurdamente desprezível mas com um lugar de destaque na sociedade(...)" traduz bem o personagem e sua complexa personalidade!

    Ao mesmo tempo que, às vezes, dá vontade de desligar a tv, a gente não consegue tirar os olhos, pra não perder os detalhes....

    House é tenso! ;)

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  2. Olá Anônimo,

    House é tenso.... é isso mesmo, muito tenso. Não é o tipo de programa que se vê para relaxar. Às vezes fico muito brava comigo por ter visto.

    Apesar de gostar troco tranquilamente um episódio de House por um The Good Wife. Tem outro sabor. Bem menos azedo, e com profunidade.


    Abraços,
    Patrícia

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  3. Sim, Patricia!

    Descobri o The Good Wife há umas 2 semanas e estou curtindo!
    Parece mais um pouco mais factível, não acha?

    E acho também interessante como é abordado a questão familiar, essa coisa atual em que as mulheres têm que estar prontas pra tudo, sem tempo às vezes nem pra nós mesmas....

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  4. Olá Anônimo,

    Também gosto muito de como é abordada a questão familiar.... complexa, sem formuletas prontas.

    Gosta também da postura da Alicia, mais silêncio, mais escuta e menos heroísmo.

    Abraços,
    Patrícia

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