Hoje fui ao Poupa Tempo renovar minha habilitação. Fiz todo o processo em uma hora e saí de lá esvaziada. O Poupa Tempo se aproximou muito do filme "Tempos Modernos" do Charlie Chaplin. O personagem fica apertando os parafusos em um movimento contínuo, sem mais perceber o que estava fazendo, não parava. Essa sistemática ritmada e sequencial foi desenvolvida por teorias da administração para que a produção fosse com o menor número de movimentos e com a melhor otimização do tempo. A teoria chamava-se (não sei se é assim ainda) tempos e movimentos. Bem, o Poupa Tempo implantou algo parecido para os procedimentos dos documentos. Em cada guichê para o qual se é encaminhado o atendente tem uma única tarefa a cumprir. Primeiro a checagem da documentação, depois o guichê que emite a guia, na sequência tirar a foto e digitais, pagar no banco, pegar a senha do exame médico, fazer o exame e voltar no guichê para pegar o protocolo. Os atendentes simplesmente executam, nada além disso. O guichê no qual eu mais demorei foi o da foto e das digitais. Como foram dos 10 dedos é demorado mesmo. Tive, então, oportunidade de observar a atendente. Sua fisionomia era de tédio, ela olhava para o computador, esperando carregar a digital para falar: "agora o outro dedo" e isso se repetiu por 10 vezes. Multipliquemos isso por, sei lá, uma média de 50 pessoas por dia (acho que é muito mais) e ela fala isso 500 vezes por dia e por semana 2.500 vezes. Na semana seguinte a contagem se repete: "agora o outro dedo" ou variações do tipo "novamente". Fiquei imaginando se um filho ou o marido, a mãe ou sei lá quem pergunta como foi o dia, o que aconteceu no trabalho, o que será que ela responde? Será que ela consegue sentir algo em relação a sua rotina? Não temos mais aqueles operários como no filme, mas a era da informática e das normatizações ajudam a manter a mesma mecanização. O que mudou? Agora estamos no século XXI. Indivíduos com pouco ou nenhum espaço para criar, para ter algo de si na tarefa, execuções totalmente mecanizadas. Inclusive, esse Poupa Tempo é enorme, cheio de gente. Tive uma sensação de estar em um curral bem grande, com aparente liberdade para pastar, mas . . . cada coisa em seu lugar. Lá dentro estávamos todos mortos como indivíduos. A diferença entre mim e os atendentes é que saí de lá e fui fazer outras coisas que me trouxeram vida. . . . . eles tem que viver essa morte todos os dias. Cruel.
Oi, Patrícia!
ResponderExcluirSempre que eu preciso ir a uma repartição pública, eu observo a mesma coisa que você e me pergunto o que deve passar na cabeça desse pessoal que simplesmente executam determinadas tarefas repetidamente... o tédio é, de fato, o maior rival deles!
Abraços!
Mairan Teodoro
Oi Mairan,
ResponderExcluirRealmente um tédio.
Abraços,
Patrícia
Perfeitas observações!
ResponderExcluirO mundo hoje está completamente no esquema "linha de produção".
Mas fica difícil pensamos em como melhorar isso, se até mesmo a educação dada atualmente prioriza exatamente isso, virar a manivela sem questionar o porquê das ações.
Olá Anomimo,
ResponderExcluirVirar manivela sem perguntar porquê.... por isso valorizo refletirmos sobre nosso dia a dia. Para não cairmos nessa "armadilha".
Abraços,
Patrícia
Terrível mesmo! Eles poderiam revezar os cargos!
ResponderExcluirOlá Lorena,
ResponderExcluirUm tédio. Mudar os cargos é uma boa, mas e essa mecanização, como mudar?
Abraços,
Patrícia