quarta-feira, 15 de junho de 2011

Q.I. - Quoeficiente de Inteligência, uma bobagem


É isso mesmo, cheguei a conclusão que, para o que eu acredito hoje, o quoeficiente de inteligência é uma bobagem.  Tenho um amigo que eu o classificava, através dos padrões do senso comum do QI, alguém com a inteligência acima da média. Se seu QI fosse medido com certeza estaria na curva dos acima, nem perto da média. Além de brilhante em sua especialidade (é físico) é uma pessoa interessante, consegue falar com segurança sobre quase todos os assuntos, sempre demonstra conhecimento, e gosta de reflexões sobre questões subjetivas e sobre nossa evolução como primatas. Junto nesse pacote de especialidades não é uma pessoa arrogante, quando defende seu ponto de vista não é agressivo e muitas vezes engraçado. Dou muita risada até hoje quando lembro de nossa conversa sobre médiuns e suas psicografias. Ele em sua defesa colocou que Chico Xavier deveria ser preso e enfatizava: "prendam Chico Xavier, prendam Chico Xavier", foi muito engraçado. Até hoje rimos do assunto. Uma das temáticas que já travávamos era sobre inteligência. Eu defendia que existiam pessoas mais inteligentes que outras e ele sempre defendeu que esse conceito era irreal, que as diferenças não eram quantitativas. Eu ouvia tudo aquilo, e confesso, não entendia sua defesa. E esse tema, inteligência sempre fez parte da minha evolução. Na minha família sempre achei meu pai inteligentíssimo. É um homem de exatas e os números e o raciocínio lógico são para ele como o alfabeto é para mim, algo comum. Até hoje, ele com seus 76 anos de idade, faz as compras no supermercado e armazena em seu cérebro o preço de cada item que pegou, compara preços, vai calculando de cabeça e quando chega ao caixa diz quanto dará a conta. Nunca é exato o valor, mas muito próximo. Inclusive ele tem uma margem de erro que fica em torno de 1% de tão calculado que é a história. Dentro do meu universo familiar eu o colocava no topo da pirâmide, e logo abaixo meu irmão, também uma pessoa de exatas. Eu o achava muito inteligente, nunca precisou estudar para passar de ano, nunca pegou um exame na escola, só prestar atenção na aula bastava. Em terceiro eu colocava a minha irmã, também muito inteligente, lia muito, livros diferencidados e entrou muito bem colocada na USP. Logo depois minha mãe, ela fez USP, inclusive em uma época que poucas mulheres cursavam universidade. Por sinal todos que me cercam fizeram USP, pai, mãe, irmãos, marido e cunhados. E eu, segundo os critérios que eu mesma estabelecia, ficava lá, na lanterninha, não tinha essa habilidade exata e muito menos entrei na USP. Tenho uma tia que se sente como eu, batalhadora, esforçada mas que não se configura na lista dos Top ten. Bem. . . . os anos foram passando e minha visão sobre inteligência foi mudando. Primeiro eu revi o ranking da família e subi minha irmã uma colocação. Comecei a ver que tudo que ela focava fazia com facilidade, que ela tinha uma habilidade natural para o aprendizado, o que ela não tinha era foco, só que então muito  inteligente. Depois comecei a me rever. Será que por eu não ter habilidade com números e habitar o reino do subjetivo,  fluente em uma área em que não há medições cartezianas, isso me põe fora da lista dos inteligentes? Até então eu tinha esse conceito muito engessado e hoje penso muito diferente daquela época. O que mudou? Muita coisa, mas recentemente, através das minhas filhas consegui me ver livre do carteziano, da comparação. São gêmeas bivitelinas, estão na mesma escola, mas em salas diferentes. Essa escola tem um planejamente bem rigoroso e os professores têm que transmitir o mesmo conteúdo para seus alunos. As provas são iguais tal qual os conteúdos ensinados. Só que minhas filhas tem posturas de vida muito diferentes entre si. Uma é mais organizada e mais aplicada, demominarei de Feliz. A outra é meio desleixada e pouco organizada, será a Estrela. Nas provas trimestrais a escola enviou um roteiro de estudo. Seguimos esse roteiro as três juntas. Feliz separava as matérias, respondia os exercícios de forma organizada e com sequência lógica. Estrela respondia no meio de uma página, virava a folha, às vezes não queria anotar e por inúmeras vezes se destraia com alguma outra coisa. A apreensão dos conteúdos era similar o que difenciava eram as condutas. Estrela, meio que nem aí, Feliz empenhada. Qual não foi a minha surpresa quando chegaram os resultados quantitativos da escola. Seus desempenhos foram muito diferentes. Estrela teve um desempenho quantitativo excelente, suas notas, de cinco matérias quatro foram 10 e essa única que não, 9,5. Feliz quantitativamente muito bem, mas com notas que variaram de 8,5 a 10. E tão mais interessada . . . . . por que isso?. Nas outras avaliações que seguiram a mesma coisa. Estrela sempre com o desempenho máximo e Feliz variando. Comecei a refletir sobre isso, fiquei dias pensando. Finalmente eu compreendi, o que meu amigo tanto me falava. . . .  a princípio parecerá um conceito complexo, mas no dia a dia, no cotidiano vai fazendo tanto sentido. Somos indivíduos com características próprias, tanto biológicas quanto emocionais e por isso os processos de elaboração e devolução do aprendizado ao mundo são muito próprios, são únicos. Feliz e Estrela tem a capacidade de compreensão similar, porém elas devolvem ao mundo essa compreensão de maneira diferente. Muitas vezes coloco que Feliz parece um lençol freático, sabe-se que existe, mas não o vemos, só quando aparece em sua nascente. Ela é assim, mais introspectiva, seu mundo interno é mais complexo e é isso que ela mostra ao mundo. Para ela as coisas não são tão simples. Já Estrela é impulsiva, mais extrovertida, acumula menos "preocupações", suas emoções são explícitas. É isso o que ela mostra ao mundo. Para ela tudo é mais  simples, direto, sem rodeios. Por fim, não existe mais inteligente ou menos inteligente, nossos processos mentais e emocionais são diferentes e o produto dessa diferença é o que mostramos para o mundo. Esse produto pode ser algo que muda radicalmente a vida da humanidade como Darwin, Freud, Einstein. Ou talvez algo mais singelo que ajude uma pessoa a mudar sua maneira de ver, tanto as pessoas como a si mesmo. O produto de Feliz, Estrela e meu amigo me ajudaram a mudar e concluir que, para mim, testes de QI . . . .  . são uma bobagem. Talvez minha família é que não fique muito feliz. Eliminei o ranking, estamos todos nivelados, eu, meu pai, minha mãe e meus irmãos.

10 comentários:

  1. Patricia,

    Não se se devido a prática, mas seus textos estão cada vez melhores!
    Esse último está incrível!

    Concordo com vc quanto ao fato de que teste de QI são bobagens! Existem tantos tipos de inteligência, não é? E essa questão de estudar em uma universidade de renome também é muito complexa. Tenho um tio que, embora tenha estudado apenas até a 4ª série, possui uma inteligência absurda, um senso lógico incrível!

    Mas uma coisa acho importante comentar: acho saudável olhar nossos irmãos/pais do jeito que você olhava os teus... Quando eu era criança, achava meu irmão a pessoa mais inteligente e esperta do mundo e isso me motivava, porque eu sempre pensei "quero ser como meu irmão". Ele era meu herói, nesse sentido. Tanto é que realmente me empenhei pra ser como ele e hoje dizemos que o papel inverteu e ele é quem quer ser como eu! rs

    Abraços!

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  2. Patrícia, muito obrigada pelos elogios. Fazem me sentir tão "inteligente".

    Você tem razão, espelhar-se no outro é importante para nos conhecermos, o que nos destrói é quando só vemos o outro e nem um pouco a si mesmo.

    Beijos,
    Patrícia

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  3. Oi Pata,

    esse seu amigo também deve estar triste: ele era o número 1 da lista e, agora, foi-se a lista!

    Eu gostei muito de seu texto. Acho que é uma reflexão madura sobre um tema difícil. De minha parte, continuo achando que as habilidades das pessoas diferem e, às vezes, diferem muito. Esta diferença é difícil de quantificar por um motivo: as "áreas" em que somos habilidosos é que são diferentes.

    Os afrtunados são habilidosos em alguma atividade que é socialmente recompensada naquele momento histórico (compare a vida que um Neymar ainda vai levar com a vida que um futebolista levava um século atrás, apenas). Os desafortunados são habilidosos em algo para o qual não se dá valor no exato momento em que eles vivem. Muitas vezes, os desafortunados sequer têm a sorte de descobrir que são habilidosos em algo pois a atividade em que eles são excelentes pode não ser mais praticada ou pode ainda nem existir de uma forma reconhecível.

    Por este motivo, eu procuro adotar uma filosofia social rawlsiana. A fortuna pode nos agraciar com habilidades que permitem que levemos uma vida, no mínimo, confortável ou pode ter nos destinado a uma vida miserável.

    Supondo que isso seja verdade, em que tipo de mundo você gostaria de viver? Em um mundo em que os deserdados pela fortuna são também abandonados pelos afortunados ou em um mundo em que os afortunados procuram meios para melhorar a vida dos desafortunados? O segredo da teoria da justiça de Rawls é que você deve responder essa pergunta sem saber em qual categoria vai cair depois de nascer (pegadinha!!)

    Vamos deixar a filosofia de lado pois é hora de trabalhar...

    Beijos,
    Roberto

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  4. Olá Roberto,

    Já que esse meu amigo não acredita que existem pessoas mais ou menos inteligentes ele não deve estar triste por perder um posto que nunca acreditou.

    Que bom que gostou da reflexão e quando pudermos gostaria de conhecer mais sobre a teoria da justiça de Rawls.

    Beijos,
    Patrícia

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  5. Eu gosto de ler teu blog.

    De alguma forma, eu tento ver como cada texto pode se encaixar com coisas da minha vida ou que estão ao meu redor...

    É quase como "hei, tô precisando pensar em algumas coisas da vida, deixe-me ver aquele blog sobre o cotidiano...."

    Alguém comentou em outro post, é meio que uma identificação!

    Gosto disso...

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  6. Olá Anônimo,

    Fico tão feliz com seu comentário que talvez não consiga me expressar adequadamente.

    Quando pensei em escrever buscaba extamente isso, falar de coisas do cotidiano, que fazem parte de nosso dia a dia, mas que por vários motivos deixamos para lá.

    E você me fala: "hei, tô precisando pensar.... cotidiano" isso me deixa muito preenchida.

    Que bom que o que pensei pode acontecer. Nossos pensamentos e reflexões, não serem tempo perdido, mas significativos para continuarmos a viver nosso dia a dia.

    Muito obrigada, estou muito feliz com o retorno.

    Abraços,
    Patrícia

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  7. Oi, Patrícia!

    Parabéns por esse ótimo artigo! Muito bom, mesmo!
    Continue postando daí que eu continuo lendo daqui. ;)

    Abraços,
    Mairan Teodoro

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  8. Oi Mairan,

    Obrigada. Sinto-me muito honrada.

    Beijos,
    Patrícia

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  9. Gostaria de conhecer este seu amigo! A visão dele é além do alcance...E a sua é um descortinamento! Bjs

    Cláudia

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  10. Cláudia,

    Tudo nesse meu amigo é além do alcance. Por isso sempre paro para ouvir e refletir quando ele tem algo a dizer.

    Beijos,
    Patrícia

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