quarta-feira, 25 de maio de 2011

Quando novos hábitos substituem os velhos


Lembro-me muito bem que anos atrás, em um processo seletivo, a selecionadora me pediu para que fizesse uma redação sobre mim (tema manjadíssimo em processos seletivos), só que no computador. Não esqueço a abordagem que fiz. Elaborei uma redação na qual defendia o quão não natural eu achava escrever sobre mim no computador. Tal ferramenta me permitia que eu corrigisse com frequência o que tinha escrito, e no papel, mesmo se houvesse rascunho, dificilmente poderia modificar muito do original. Coloquei também que sentia certa artificialidade nas palavras, porque quando usava a caneta, o lápis e o papel eu sentia que as palavras no papel eram extensão de mim. Vinham da minha mente, da minha alma e se materializavam através da escrita. Um processo totalmente meu, sem um intermediário, nesse caso o teclado (a selecionadora não me achou delirante, talvez esquisita). Mas não é isso que interessa, mas sim, refletir sobre esse processo de substituição dos velhos hábitos por novos, e como esse processo demanda tempo. 
Evolucionistas colocam que o ser humano no geral é resistente a mudanças porque, nos primórdios, algo novo poderia significar a extinção daquele bando. Era necessário antecipar os acontecimentos. Claro que isso faz parte, porém gostaria de "olhar" sob outro prisma. Quando uma empresa resolve mudar toda uma postura de recursos humanos, comercial ou de sua cultura dominante, não dá para querer que no dia seguinte todos os colaboradores e fornecedores vejam sentido nessa nova maneira de ser. Os gestores dessa empresa, com certeza, não planejaram e implantaram tais mudanças em dias, provavelmente por anos foram tomando forma. Os gestores tiveram oportunidade e tempo de expiar seus velhos hábitos, entendê-los e dar sentido aos novos. Só que isso acontecia a portas fechadas, era exclusivo, para poucos. Que direito, então, esses gestores têm de exigir que em um curto espaço de tempo os colaboradores e fornecedores tenham que aceitar sem resistências essas mudanças? Nenhum. Mas, infelizmente, no mundo corporativo não é assim que funciona. Os tais "resistentes" são substituídos. Lógico que existem resistentes patológicos, mas não é sobre eles a quem estou me referindo. Eu sempre tive meu textos, minhas idéias, minhas dúvidas em cadernos, desde minha juventude.
Tenho-os guardados comigo até hoje e trazem muito da minha história. Mas, de uns tempos para cá, aos poucos, essa artificialidade que eu acreditava existir, em escrever meus pensamentos com a tecnologia, começou a não me incomodar mais. Prova disso é o cotidiano reflexivo. A escrita sempre fez parte do meu subjetivo, sempre organizei meus pensamentos em cadernos, folhas e nunca no computador. Sentia que minha espontaneidade, minha naturalidade seria aniquilada se fosse diferente. Inclusive na faculdade alguns dos trabalhos que precisavam ser feitos eu antes fazia no papel para depois transcrever no computador. Em paralelo o mundo corporativo exigia que eu lidasse com a tecnologia também no meu processo criativo. Comecei a expor-me profissionalmente através da tecnologia, mas continuei mantendo o processo criativo pessoal com a escrita manual. Só que aos poucos fui me dando conta que o processo criativo próprio não iria perder seu sentido se eu usasse o teclado. Continuaria sendo uma extensão do meu eu. Finalmente o uso da tecnologia fez sentido, mas esse processo demorou um tempo.
Que venham as mudanças. Substituir velhos hábitos é muito bem vindo, sempre crescemos e aprendemos coisas novas, mas é necessário ter um tempo, um tempo próprio. Sempre que precisamos jogar fora algo nosso ou aposentá-lo, o que virá para substituir, precisa ter sentido. Muitas vezes o difícil é isso. . . .  . dar sentido ao novo.

2 comentários:

  1. Anônimo,

    Muito obrigada. Tão espontânea sua manifestação. Gostosa de receber.

    Abraços,
    Patrícia

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