sábado, 23 de abril de 2011

O aprisionamento da perfeição




Sempre que vejo uma competição olímpica, uma notícia de record que um nadador bateu ou mesmo cenas de uma bailarina realizando um solo, sempre penso no esforço e dedicação ao qual o atleta se impôs para alcançar essa conquista. Sem sombra de dúvida o espetáculo é belíssimo, para quem está vendo, mas e para o protagonista, será que tem tanta beleza assim.
Esses atletas, essas bailarinas treinam diversas horas por dia em busca do perfeito. Além do exaustivo treino físico também precisam restringir sua vida social. Afinal não podem ir a baladas, esbaldarem-se em pizzas, pois precisam seguir um rigoroso esquema alimentar. Esses jovens, que vemos ganhando medalhas olímpicas, têm desde pequenos um rígido ritmo de treinamento , para que no futuro consigam alcançar tal “sucesso”. Há aqueles que também fazem tudo isso,  esforçam-se ao máximo, mas nunca chegarão a ganhar uma medalha. São poucos, mas muito poucos mesmo aqueles que serão mundialmente consagrados como quase perfeitos em relação a seus pares.  E assim que a medalha é conquistada o que lhes resta? Voltar aos treinos para aperfeiçoar-se ainda mais? Li em um artigo da revista “Mente e Cérebro” sobre o filme Cisne Negro: a perfeição tem um sério defeito, para além dela nada existe.” Ou seja, quando a perfeição é atingida nada mais resta, apenas  um vazio que precisa ser preenchido com outra busca do perfeito. Então sempre penso: esses jovens por parte de sua infância, toda a sua junventude e muitas vezes parte de sua maturidade  têm suas idéias, seus desejos e mundo voltados única e exclusivamente para um único objetivo. Seu mundo afetivo, social e comunitário ficam completamente empobrecidos. Será que aqueles segundos de glória valem toda uma vida de esforço? Quem já esteve nesse topo talvez diga que sim, mas e aqueles que tanto tentaram e por algum motivo não alcançaram? Eu, particularmente, prefiro que no futuro, se alguém me perguntar quem é minha filha, eu possa apontar para alguém desconhecida no meio da multidão, que sorri, e que tem muitos, mas muitos planos a realizar. 

Um comentário:

  1. Excelente reflexão!

    O perfeito parece mesmo muito chato, depois que tal estado é conquistado!

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