segunda-feira, 25 de abril de 2011

O poder da instituição psiquiátrica

Sábado à noite assisti na televisão um filme “A ilha do medo” com Leonardo Di Caprio, um trilher de suspense psicológico. Não gostei, mas valeu para algumas reflexões.  Baseado no livro homônimo de Dennis Lehane é uma história de conspiração e paranóia. Em 1954, um policial investiga a fuga de uma paciente de um hospital psiquiátrico instalado em uma ilha. Quando um furacão deixa a ilha isolada, o policial é obrigado a permanecer ali e começa a desconfiar que os médicos realizam experiências ilegais com os internos. À medida que o policial vai aprofundando sua investigação a realidade e a loucura começam a se misturar. Em um determinado momento do filme não se sabe mais distinguir uma da outra. Inclusive em uma dessas cenas o policial encontra a tal foragida, que escondida em uma caverna da ilha confidencia à ele ter sido médica psiquiátrica da instituição e, por perguntar demais, os médicos a transformaram em uma interna, adulteraram sua história. Ela disse: “quando se é diagnosticado como louco, não adianta gritar, revelar a verdade, ninguém mais acredita em você”. Ou seja, em nossa sociedade o louco não é ouvido, simplesmente é um louco. Via de regra, a pessoa que sofre de um transtorno mental precisa estar com elevado grau de comprometimento da realidade para que chegue a ser internada. Não só quando apresenta delírios, alucinações, mas estados depressivos severos também apresentam distorção da realidade como risco de suicídio. Além do comprometimento do paciente, a família fica muito fragilizada. Seja porque é a primeira vez ou a décima, não importa, sempre é difícil, sempre é triste. O transtorno mental é pouco compreendido e gera sensação de impotência na família. Como fazer seu filho com esquizofrenia parar de delirar? Como fazer sua esposa deprimida se levantar? Não adiantam discursos, frases de efeitos, punições e recompensas, o doente mental tem seu tempo, só ele tem ciência de si mesmo, mesmo se essa sabedoria for uma loucura. Por isso a instituição psiquiátrica tem poder sobre o paciente e sobre a família, ambos estão comprometidos. Se essa instituição disser para a família ficar de cabeça para baixo por uma semana, a família o fará. E o doente, então, tomado por processos mentais aos quais não consegue dominar ou controlar, o que pode fazer por si mesmo? Algumas instituições usam esse poder para ajudar as famílias e os doentes. Infelizmente outras o usam de maneira sádica e perversa causando sofrimentos a muitos. Já vivenciei várias situações em que vi isso acontecendo, mas como é subjetivo, foi meu olhar, minha escuta, pouco pôde ser feito. Senti-me impotente. O abuso de poder pode vir mascarado com um discurso de ajuda, de que tudo isso que está sendo feito é o melhor para o paciente. No final é uma morte de almas, tanto da família como do paciente.

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