domingo, 25 de setembro de 2011

Arrumações 2



Tudo começou de uma maneira meio desarrumada. Domingo, bem cedo, dia livre, filhas nos avós pensei em fazer várias coisas pendentes. Ler um texto do grupo de estudos, fazer uma postagem, ver um filme. Por fim resolvi começar pelo texto do grupo de estudos que cuida da relação do psicanalista e suas teorias. Abre parênteses: durante a semana tem um colega de trabalho, que chamarei de Rodrigues, me pediu alguma literatura sobre mecanismos de defesa e emprestei dois livros meus. Um com linguagem simples, que além dos mecanismos de defesa versa sobre a psicanálise abordando os principais aspectos dessa teoria de maneira acessível e outro um pouco mais denso. Dias depois o Rodrigues disse estar gostando muito da leitura e achando a psicanálise interessante. A partir dessa fala dele, lembrei de outro texto de Freud (As cinco lições da psicanálise) que na época da faculdade li, achei extremamente interessante, e a partir daí, mesmo sem saber na época, me apaixonei pela psicanálise. Transferencialmente pensei em emprestar ao Rodrigues também esse texto. Fecha parênteses.  Resolvi começar o dia pelo texto do grupo de estudos sobre psicanálise. Logo no início li algo, sobre a psicanálise, que achei tão lindo, imediatamente começou o desencadeamento de sensações. Me remeti ao meu primeiro despertar, ao texto de Freud, ao interesse do meu colega de trabalho na psicanálise, então, larguei o que fazia resolvi procurar o texto para entregar ao Rodrigues. Não sei porque mas era algo urgente. Eu tinha certeza que esse texto estava junto ao meu material da faculdade, até hoje o guardava na íntegra: cadernos, trabalhos, textos e produções monográficas. Comecei a remexer, não encontrava o texto, e ao mesmo tempo me deparei com um monte de coisas que não faziam mais sentido em guardar. Resolvi que iria jogar um monte de coisas fora. Comecei uma certa desorganização, tão sem linearidade, pareciam movimentos meio aleatórios. Ao mesmo tempo me intrigava não ter dado de cara logo com o texto do Freud porque recentemente o usei para preparar uma aula. Tentando fazer a triagem do que ficar e do que jogar, lembrei: o texto das cinco lições estava em outro lugar. Abandonei a triagem, tinha um monte de coisas espalhadas pelo chão, algo meio bagunçado e fui procurar as cinco lições em outro lugar. Achei logo e imediatamente que senti satisfação também percebi que aquele lugar também estava meio bagunçado, precisava de organização. Resolvi organizar lá primeiro não havia tantas coisas a serem jogadas fora, só melhor dispostas. Depois de fazer isso voltei ao lugar onde tudo começou. Então, mais organizadamente consegui selecionar o que jogaria fora e o que não. Na época da faculdade, tudo o que o que se relacionava a ela era tão significativo que sentia necessidade de acumular, deixar tudo com a mesma  importância.  Hoje, muito diferente, meu caminho já está tão mais sólido, mais lúcido, que não preciso mais de tanto volume. Mas . . .  minha agenda do ano de 2007 não consegui me desfazer. Foi um ano importante, um marco para uma série de mudanças que até hoje estão acontecendo. O significado desse ano ainda é muito vivo, muito presente. Durante algum tempo sinto que essa agenda vai permanecer onde a coloquei, pelo menos ela mudou de lugar, já é alguma coisa, já uma ressignificação. Fiquei horas me reorganizando, inclusive elegi um canto no qual coloquei várias quinquilharias que não sei o que fazer. Acho que terá a hora certa para arrumá-lo, mas por enquanto esse lugar vai representar o reservatório daquilo que não sei o que fazer, mas que em algum momento receberá um novo destino. É assim com tudo em nossa vida. Vez por outra, precisamos reforçar nosso lugar ou encontrar outro destino, outro significado. Hoje foi um dia de arrumações, de trocar de sapato. Joguei aqueles que não me servem mais, que um dia foram bonitos, mas meu pé cresceu, mudou, está diferente e eles não combinam mais. Ainda sobraram alguns, com quais não sei bem o que fazer. Não os quero mais usar, não fazem mais sentido, mas não consigo me desfazer. Por isso os guardei em um lugar lembrável, onde eu possa vê-los de vez em quando, que algo deve ser feito, não estão bloqueando minha passagem, é um lugar mais de lado . . . . . . só que não é esquecido.  

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