sábado, 13 de agosto de 2011

Escrever sobre escrever: "metaescritura"?

Escrever me faz muito bem, me acalma, já que durante o tempo que elaboro, seja lá a ideia que for, estou muito voltada para algo muito meu, muito subjetivo. Mas, apesar desse bem estar ainda tenho uma certa sensação de falta. Por diversas vezes eu gostaria de expressar muitas das sensações que tenho ao ver uma cena na rua, em um episódio na televisão, ou ao ler um livro, um texto. É algo meio "extra mental" que, por vezes, me frustro ao escrever. Aquela imagem, sensação ou sentimento, o desencadeamento de ideias, nunca é uma só, muitas coisas que vem aparentemente (não acredito que só uma coisa desencadeie outras, são interligações que desencadeiam) estimuladas por algo naquela momento e não cabem em um único texto com logicidade. Ao  restringir esse campo, sinto perder qualidade, conteúdos, o texto não parece preenchido, tem certo vazio. Pelo menos para mim a escrita tem essa característica. Busco certa linearidade no encadeamento dos pensamentos, mas essa linearidade não abarca a real expressão do que provocou em mim. E é isso que estou questionando, será mesmo necessário ser tão burocrática? Como me comunicar, colocar minhas ideias, pensamentos e sensações, ser compreendida e não restringir a mim mesma? Será que sou capaz (não no sentido de qualificada, mas de ser desenvolvida o suficiente para encontrar a minha maneira de ser na escrita, e não a maneira como o entorno compreende o que deve ser uma escrita reflexiva)? Mas ao mesmo tempo eu me coloco na rede social e na internet, então busco certa compreensão do outro, busco eco no entorno. Como equalizar o meu ser escrita com o ser do leitor? A arte da pintura, escultura e talvez outras que eu não sei citar conseguem extrapolar, ou mesmo é próprio delas haver espaço para essa equalização. Tarsila do Amaral, não há proporcionalidade objetiva, mas muita beleza, encanto e sensibilidade. Transbordante. Pablo Picasso, Van Gogh, Salvador Dali, incontáveis pintores e escultores transmitem algo além do comunicável. E na escrita como comunicar esse algo além do comunicável? Como usar de um recurso de comunicação sem usar das regras de comunicação? Fazer um texto, uma escrita que pareça um delírio, algo fora realidade objetiva mas que faça sentido para o leitor? Como aproximar o leitor minimamente desse desencadeamento de sensações sem deixá-lo confuso ou entediado (no tédio há ausência de significado, é um nada)? Como não me frustrar já que descarto muita coisa para concentrar a logicidade em uma? Nessas horas penso muito em Saramago. Seus textos não seguem as regras do acordo de pontuação e suas ideias se abrem dento das próprias ideias. Por incontáveis vezes em seus livros ele abre parênteses de páginas e mais páginas, aparentemente fugindo daquela primeira ideia, mas tão dentro dela mesma que sua compreensão é imediata. Gosto bastante do realismo fantástico. Não há necessidade de logicidade, mas sim de sentidos, em todos os sentidos. Isso também me faz bem. Me acalma. Só que termino o texto com a sensação que tentei ir além da logicidade mas que não fui. Que meus questionamentos e minha angústia ficaram encobertos por outro algo que não está relacionado com sua origem ou mesmo com a trama desencadeante. Tudo é tão mais do que vemos, somos tão mais do que aparentamos, por que enconbrir e não expressar?

4 comentários:

  1. Patricia sua sensação é muito real. Sempre há algo que fica perdido, por mais que vc se esforce. Penso que os gênios que vc citou, tbem tinham as mesmas sensações. Sempre há algo por dizer, ou por escrever, enfim sempre há algo que ficou ou fica de fora. É fato! Bjs e continue tentando dizer tudo, quem escreve tem sempre este gostinho de que poderia ter formulado diferente, ou que algo ficou por dizer...como dizem os franceses...c'est ça!
    Beijos Cláudia

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  2. Claudia,

    Tão bom quando se tem eco.

    Beijos,
    Patrícia

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  3. Patricia,

    Ainda que você não consiga transformar em palavras todos os seus sentimentos, ideias e pensamentos, por favor, continue!!! Você está no caminho certo!

    ;)

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  4. Olá Patrícia,

    Seus comentários não passam em branco, inclusive comento com meu marido que os possíveis leitores devem achar que eu mesma me elogio, é o mesmo nome.

    Como disse para minha outra amiga acima, a Cláudia, é muito bom ter eco.

    Obrigada.

    Abraços,
    Patrícia

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