sexta-feira, 13 de maio de 2011

Coletividade no cotidiano



É um tema que não se esgota em algumas reflexões. Acredito que devemos diariamente procurar encontrar onde está a coletividade em nosso cotidiano. Não esqueço até hoje a frase inicial de um texto de Freud: “o homem é um animal gregário”.  Lembro-me também que na época não sabia o significado da palavra gregário, depois de descoberto . . . . fez tanto sentido.  Deveríamos continuar em bandos, mas a cultura global está impondo, e nós aceitando, a negação de nossa natureza.
A cultura global impõe que temos que ser diferentes, que não precisamos dos outros e ao mesmo tempo não podemos ser autênticos, temos que ser massificados. Esse revés ao natural causa vazio existencial. Não é à toa que os quadros depressivos estão cada vez mais freqüentes. Não é só a pressão do trabalho, as multitarefas, a violência em que vivemos. Cada vez mais nos afastamos de nossa origem. Originalmente somos coletivos e sempre será assim, é parte de nossa natureza. Porém na atualidade o que é valorizado, e almejado, é ser aquele que é apontado como autossuficiente. Só que na vida isso não acontece. Meu cunhado estava há vários meses procurando recolocar-se no mercado de trabalho (maneira bonita de dizer que ele estava desempregado e precisando de ajuda. Não se deve admitir necessidades nos dias de hoje, por isso se fala tão bonito assim) e finalmente após tanto sufoco e sacrifício ele conseguiu algo. Só que como é o começo é necessário primeiro estabilizar para daí mexer na rotina dos filhos. Por isso pediram ajuda para buscar a filha na escola pelo menos duas vezes por semana. Não só estou disponível como também é necessário esse suporte, assumi a tarefa e disse ser um benefício coletivo. Por que disse isso? Se eu não fosse nosso pai assumiria. Só que ele é um maduro, super ansioso, muito preocupado que fica nervoso se a escola chamou, se minha sobrinha (tem 11 anos) está demorando, etc. Quando a leva sempre a acompanha até o apartamento (não deixa na portaria como eu), quer ver se ficou bem. Essa frequência de nervoso semanal não faria bem a ele. Ele também me ajuda muito com minhas filhas por isso acho que é natural eu cuidar dele, dividir as “cargas”. Tem também a situação do meu cunhado, já a vivenciei algumas vezes, e sei o quanto é desgastante. Gera empatia:  pode acontecer comigo de novo, e provavelmente vou precisar de ajuda. Então: vu ajudar para ser ajudada? Ajudei porque vivo na filosofia judaico-cristã e sou boazinha? Não. É muito mais profundo e natural do que isso. Eles são meu bando e o bando cuida de si. Cuidar do coletivo, é natural, faz parte, é necessário. Por isso “benefício coletivo”. Hoje o coletivo no qual estou inserida é a família, mas também poderia ser um outro grupo. O que caracteriza o bando não é o parentesco mas sim o exercício original (de origem) da coletividade. Os cuidados que temos um com o outro não deveriam ser porque somos judaico-cristãos bonzinhos ou porque serei beneficiada por algum motivo, mas porque física e emocionalmente é importante ser um ser coletivo.

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