segunda-feira, 3 de março de 2014

Frozen - uma aventura congelante

Mais uma vez vou usar da experiência de um filme infantil (como já disse.... filhos), filme muito rico em simbolismos - Frozen, uma aventura congelante. O que me marcou foi a importância de não fugirmos de nossa essência e sim lidarmos com ela. Somos todos diferentes uns dos outros, mas precisamos ter algo de similar ao outro para que possamos interagir e nos vincularmos. É a intersecção dos conjuntos. Lembram quando aprendemos que há um conjunto A, um conjunto B e quando há intersecção entre eles forma-se o conjunto C. É a partir desse conjunto C que as relações pessoais se desenvolverão, onde criaremos nossos laços com aquela pessoa, e onde conseguiremos nos comunicar. O que fica de fora desse conjunto é nossa singularidade que por vezes pode habitar o conjunto C e outras não, mas não é por isso que não possamos ter com alguém uma relação com certa plenitude, completude na qual também possamos manter algo próprio. A utopia de que nosso eu precisa se  encaixar completamente no eu de outro nada mais é do que encontrar a perda da singularidade e tornar-se simbiótico a alguém. O amadurecimento das relações vem daí, da possibilidade de, sem a fusão, interagirmos com o outro e nos sentirmos completos de alguma maneira e não aglutinados. A aglutinação sufoca, nos perdemos de nós mesmos, não há espaço para criar, pois se criarmos algo próprio aquela massa aparente "uniforme" não será mais assim, será outra coisa. É o medo de ser diferente e acreditar que não se tem lugar. Buscamos constantemente ser aceitos por nossos pares, e ao mostrarmos alguma diferença nos dá medo de perdê-los. Será que precisamos ter sempre esse medo de perder o outro para nossa singularidade? No filme havia duas irmãs, muito unidas, brincavam muito quando criança, porém a mais velha nasceu com algo muito singular, com um poder mágico de congelar, criar neve, e o país na qual eram princesas era sempre quente. Em uma das brincadeiras de congelar a mais velha, sem querer, acaba por machucar a irmã mais nova, e a solução foi isolar a mais velha, confinada em seu quarto, pois seu poder poderia trazer tristeza. Bem .... e trouxe mesmo. A mais nova sentia muita falta da irmã e a mais velha ficava triste em isolar-se, mas acreditava que era para o bem de todos, já que sua singularidade poderia ser mais uma "maldição" do que algo que poderia agregar, unir. Os anos se passam e Elsa, cada vez mais isolada, sentia perder o controle sobre seu poder. Seu quarto ficava o tempo todo congelado e sua tristeza cada vez mais aparente. Quando mais triste e distante do que queria, mais congelado ficava seu ambiente, interno e externo. Ao desenrolar da história a Elsa precisou sair de seu quarto para ser coroada rainha, já que seus pais haviam falecido e durante a coroação, em um momento de preocupação com sua irmã seu poder se descontrola e toda a cidade fica sabendo de sua magia. Elsa corre desesperada de seu reino, sobe as montanhas e lá percebe-se livre para usar de sua singularidade. (Vai aqui o link da música tema com algumas cenas dessa transformação) Constrói um lindo castelo de gelo, transforma-se, mostra-se feliz, por sentir-se livre, não mais aprisionada pelo medo de destruir ao outro. Só que não havia outros lá e por isso sentia-se segura. Sentiu-se bem, mas não por muito tempo, porque na verdade, seu destino era aprender a estar com o outro com sua singularidade, completando-o e podendo ser si mesmo, sem medo de machucar o outro ou ser machucada.
Lógico, é um filme infantil e Elsa consegue descobrir como controlar seu poder e oferecer com ele coisas novas para seu reino. E as irmãs voltam a ter a magia de sua união e compreensão mútua de volta. 
Será que precisamos ter tanto medo de nossa singularidade, dela não ser aceita, de machucarmos os outros com nossas diferenças? Será que o outro é tão frágil assim e será que somos tão poderosos assim? Ao invés de tentarmos isolar de nossas relações pessoais aquilo que sentimos como diferente, não deveríamos tentar integrá-las, por mais que às vezes fiquem à margem, mas elas fazem parte de nós, e se as deixarmos de lado não estaremos inteiros em uma relação, estaremos somente com aquilo que é comum a todos a aí nos aglutinamos. Somos mais do que a intersecção entre A e B que gera o conjunto C. Somos todas as partes, as que são integradas com o outro e as que não. Fugindo dessa integração ficamos frozen, congelados em um lugar que não é nosso, em um lugar de aprisionamento onde não somos livres.

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