sábado, 23 de julho de 2011

A infantilização da sociedade atual


Recentemente um amigo que trabalha em uma clínica que cuida de dependentes químicos disse estar impressionado com pobreza da vida emocional de tudo que tem cercando a vida dessas pessoas que estão em recuperação. Grande parte dessa população é jovem, em uma faixa de 18 a 35 anos. Esse meu amigo disse que em sua época de juventude ele e seus amigos fizeram muita "farra". Mas colocou que ele e os amigos debatiam, iam para a praia para curtir, viviam algo. O que tinham em comum era que conversavam, se divertiam, iam a shows, realizavam debates, expandiam suas mentes para algo além do prazer instantâneo, do prazer só consigo mesmo. Tinham também prazer na companhia do outro. E é ver o outro, perceber o outro, interagir com o outro, que é incomum nos dias de hoje. Atualmente viver em coletividade é coisa do passado. O moderno é não ver o outro só a si mesmo. Só se interessar pela satisfação dos próprios prazeres. Recentemente li uma crônica do Arnaldo Jabor que refletia sobre sobre a busca por felicidade no  homem moderno, em como é a busca por esse ideal. Ele colocou que em sua época de juventude o ideal de homem era ser como o James Bond que pegava todas as mulheres, lindas, espiãs, um homem charmoso, com um tremendo poder de sedução, mas que tinha um trabalho. Arnaldo Jabor frisa que hoje o homem moderno busca constante a satisfação imediata de seu prazer pessoal e que seu trabalho se resume a isso. Satisfazer-se e que não tem nenhum compromisso com o futuro ou com alguém. A sociedade de hoje tem caminhado cada vez mais por essa rota. Hoje os jovens desde muito cedo "aprendem" que devem ir para as baladas e beijar a maior quantidade de homens ou mulheres pois é a imagem de um ser (tanto o verbo como o sustantivos) interessante. Ser beijador é ter poder e status. Qual o sentido emocional de si com o outro em beijar na mesma noite três pessoas diferentes. Busca-se só o beijar pelo beijar e não que o beijar antecede o possível início de uma relação, seja ela qual for. O importante é beijar e dizer que beijou e não que encontrou alguém interessante com a qual sentiu certa afinidade. O outro inexiste nesse movimento do beijar pelo beijar. Então o encontro com o outro não é também para saber o que ele pensa, se tem haver com o que você pensa, se ele tem algo para te oferecer ou mesmo você a ele. Esse "encontro" com o outro nada tem haver com o outro só consigo mesmo. É para satisfazer o prazer sexual do beijar e o prazer do status em dizer que beijou. A criança por volta dos dois a três anos que é assim. Está começando a ter autonomia em relação a si mesma, já anda, fala e tem o controle dos esfincters e por isso acredita que já tem certa potência para alcançar o que deseja. Inclusive é por volta dessa idade que ela começa a se diferenciar dos outros, quando começa a perceber que tem uma identidade separada dos outros que estão a sua volta. E para acontecer amadurecimento afetivo a criança precisa experenciar a satisfação precisa quando dá e não exatamente no minuto seguinte ao desejo. A frustração, a não satisfação das necessidades imediatamente,  sua preparação como um ser coletivo, com papéis naquele seu bando, naquela sua coletividade são importantes de serem vivenciados. É assim que vamos nos tornando adultos amadurecidos, assumindo responsabilidades, cuidando de nós e do outro. Quando não amadurecemos, não aprendemos a esperar, projetar futuro, traçar objetivos de longo prazo, nos mantemos aprisionados em uma fase infantil. Satisfação imediata dos prazeres. Isso deveria ser consequência do amadurecimento e não objetivo de vida. Usei como exemplo a área sexual, mas as outras áreas do indivíduo também têm sido regidas pelo princípio do prazer imediato. Profissionalmente, precisa-se rapidamente alcançar altos cargos e elevados salários, só assim sente-se prazer no sucesso profissional. Na área familiar há uma intensificação dos discursos de liberdade de pensamentos, mas essa liberdade é cercada só pelo eu, e não também pela liberdade do outro.  E assim sucessivamente em todas as relações.  Não dá para dizer se é por causa da tecnologia, se é em função da revolução industrial ou se esse movimento se iniciou no mito da caverna de Platão. O que dá para afirmar é:  estamos na ERA do EU. . . . . . . infantil.

4 comentários:

  1. Adorei seu texto e acho que isto tem acontecido muito ultimamente, as pessoas estão buscando satisfazer-se a si mesmas e não se importam com o próximo. Não amadurecem. Parece até um "ajuda-te a ti mesmo", mas se esquecem que, para ser feliz, é preciso fazer os outros felizes.

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  2. Concordo plenamente com tuas observações!

    Na minha adolescência, que foi há pouco tempo, muitas vezes fui excluida de alguns grupos por pensar diferente dos meus colegas, por querer conhecer uma pessoa de verdade, ao invés de ser só mais um número numa noite.

    As relações estão efêmeras! Por um tempo achei que as pessoas estavam preferindo esse tipo de relação por medo de se envolver, de se entregar... Mas talvez seja muito mais um comportamento infantil mesmo...

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  3. Olá Lorena,

    Que bom que gostou. E tenho pensado muito sobre isso. Os outros estão esquecendo de olhar os outros. Então, o que se vê?

    Abraços,
    Patrícia

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  4. Olá Patrícia,

    Muito obrigada pela audiência, firme e forte. Também acho que o não envolver-se está mais voltado à infantilização do que medo. Afinal relacionar-se dá trabalho.

    Abraços,
    Patrícia

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