quarta-feira, 18 de maio de 2011

Quando não se quer, não se pode ou não se consegue enxergar


Por esses dias comecei a ler uma reportagem em uma revista feminina sobre histórias de pessoas que internaram involuntariamente o filho por causa de drogas. A primeira história relatada era um contrassenso em termos de saúde mental. Uma mãe descobriu que o filho, de 18 anos, usava drogas havia anos e já tinha desenvolvido dependência. Primeiro internou-o por 15 dias para uma desintoxicação e não surtiu resultado. Então, a mãe resolveu interná-lo em uma clínica com um programa mais extenso, mas queria um lugar que aceitasse ela interna junto para que continuasse cuidando dele, para que ficasse ao lado dele o tempo todo. Diz ter procurado exaustivamente uma clínica que aceitasse a proposta, até que uma caríssima (palavras do depoimento) aceitou. Bizarro, que dinâmica familiar é essa? Provavelmente algumas clínicas não aceitaram porque têm práticas duvidosas e não queriam que fossem expostas. Mas no meu imaginário, algumas são sérias e se preocupam com a saúde mental. Devem ter dito claramente para essa mãe que isso era totalmente disfuncional, simbiótico, e que ao contrário de ajudar atrapalharia o tratamento do filho. A grosso modo, no tratamento de dependência química, um dos quesitos importantes é tirar o paciente da infantilização, da busca da satisfação dos prazeres de maneira imediata. É necessário que a angústia tenha espaço de permanência no indivíduo e que ele aprenda a fazer alguma coisa com isso, não anestesiá-la. O filho estava doente, precisando apropriar-se de seus sentimentos, emoções e limitações. Só que ela, se internando junto, tira do filho essas possibilidades, encapsula-o através da justificativa de ser uma mãe totalmente boa. Ficou 6 meses internada com o filho e disse sair da clínica só de final de semana. A reportagem relata que mãe e filho dormiam no mesmo quarto e no dia que chegaram os dois precisaram tomar calmantes, ela por seus motivos, e ele pelos dele. Quanto mais eu lia mais chocada eu ficava. A clínica aceitou esse quadro doentio por dinheiro, não estava nem um pouco interessada na saúde mental, mas na engorda da conta bancária. Fico imaginando que essa mãe deve ter ouvido de diversos profissionais e clínicas que não havia nada de saudável em tal plano. Mas ela não pôde, não conseguiu ou não quis enxergar sua própria disfuncionalidade e o quanto isso poderia ser danoso ao filho. Esse é um exemplo que escancara um mecanismo de defesa do ser humano, faz parte de sua sobrevivência emocional. Só que usá-lo com tal extremismo causa o efeito contrário, nossa morte psíquica e de quem está em volta.  Não enxergar tal comprometimento é assustador. Inclusive a mãe coloca na reportagem que, depois de duas semanas dessa “internação simbiótica” (eu que denominei), ela percebeu que ele não estava pronto e internou-o novamente. Será que ela se perguntou porque?
Certa vez dei uma devolutiva a uma mãe mostrando o que eu  estava enxergando no cenário da dinâmica familiar e o quanto essa dinâmica refletia na filha. Na sessão seguinte, quando trouxe a filha, me disse ter refletido muito durante a semana e completou: “minha mãe me disse que finalmente alguém teve coragem de dizer o que todo mundo estava vendo e só eu não”. Disse-me ter ficado chocada ao ouvir isso e que não sabia que as coisas estavam tão ruins assim. Foi um movimento foi bom, positivo ela conseguiu enxergar à sua volta. Em vários momentos da vida, por motivos que só cabe a nós, não podemos, não conseguimos ou não queremos ver. Só que quando abrimos a cortina e deixamos a luz mostrar o que está ali, temos  possibilidade de fazer escolhas, sejam elas quais forem. A disfuncionalidade está em manter-se na escuridão o tempo todo.  Usar de certa neblina visual, densa ou não de vez em quando, faz parte, retirar totalmente a luz . . . . . . . . .  um perigo.

2 comentários:

  1. Olá Patricia, adorei seu blog, o layout ficou clean e bonito... Sempre muito bem escrito. Parabéns... Abraços.

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  2. Oi Cris,

    Obrigada pelo prestígio.
    Estatística bombando .......... hahahahahahahahaha

    Beijos,
    Patrícia

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