domingo, 1 de maio de 2011

Mãe e culpa: eterna equação



Este final de semana encontrei com uma amiga, mãe de primeira viagem, e seu bebezinho que está com quase 5 meses. Daqui há mais ou menos um mês e meio ela voltará a trabalhar e já está pesquisando berçários para deixar seu filho durante sua jornada diária de 40 horas semanais. Está muito angustiada com esse fato, disse estar sentindo culpa por ter que deixá-lo em um lugar no qual ficará por quase 10 horas, só para ela voltar a trabalhar. Disse-me que sentia vontade de continuar a cuidar dele por mais um tempo. Conta que sente o dia passar com tanta tranqüilidade, diz que o filho é muito bem humorado e faceiro, gosta de acompanhá-lo em seu desenvolvimento. E isso não são só adjetivos fantasiosos de mãe, o mocinho é uma delícia. Sorri o tempo todo,  interage, se diverte sozinho comendo o pé, esticando e dobrando as pernas, pegou no sono no meio de uma praça cheia de crianças, é tranquilão. Racionalizando: qual o sentido dela voltar ao trabalho? O que em sua rotina diária na empresa vai preenchê-la tanto? Ela sabe que vai voltar a enfrentar a competição do mundo corporativo, as reuniões intermináveis, excessos de cobranças e caixas de entrada de e-mails lotadas com e-mails que foram mandados com cópia para todo mundo (hoje é uma prática corrente nas empresas mandar cópia para todos para tirar o seu da reta rapidinho ou dedurar profissionalmente alguém rapidinho). Ou seja, voltar para um mundo que agora parece tão mesquinho, apesar dela trabalhar em uma grande empresa muito conceituada no Brasil. Só que nesse momento, nada ligado ao seu trabalho “passado” está fazendo sentido se comparado à nova vida que está vivendo. Nova vida em todos os sentidos. Ela se descobriu como mãe, descobriu o marido como pai, descobre o filho a cada dia e gosta de cuidar dele. Então, racionalmente, a resposta lógica seria ela ficar em casa por mais um tempo, certo? Não. As razões que nos levam a tomar decisões, na maioria das vezes, não têm nada haver com a lógica objetiva e sim com uma “lógica” subjetiva. O receio de ficar fora do mercado de trabalho e quando quiser voltar não ter mais espaço.  Tem receio de abandonar uma ótima empresa e ser uma insanidade (no caso da minha amiga essa empresa é o sonho de muita gente). E existem muitas outras razões subjetivas ligadas ao que se projeta para o futuro.
Por fim, o que isso tem haver com culpa? Tudo. Essa culpa, que ela está sentido e que muitas outras mães também sentem, se instala porque o que será feito é totalmente contrário ao desejo delas. No íntimo essas mães acreditam que estão abandonando seus filhos por algo fútil e sem sentido. É aí que a culpa encontra um espaço para se multiplicar, onde existe um conflito. Por isso, mães que estão com esse conflito, não deixem de acreditar que suas razões subjetivas têm um sentido sim, tanto para você como para seu filho. Não se sintam moralmente egoístas, afinal estão tentando ser mães, e conflito x culpa é uma constante na relação mães e filhos. É, foi e parece que sempre será.

2 comentários:

  1. Oi Patrícia, eu, depois de muita angústia e sofrimento, consegui equacionar a situação aqui em casa. Mas meu maior problema sempre foi ter consciência da angústia da separação da Amanda e não da minha. Nós conseguimos racionalizar a questão, mas os nenéns não. Para eles a dor da separação da mãe é semelhante a dor física e que mãe estaria feliz em fazer isso ? Isso é cruel !!! Mas ter consciência disso, entender como a angústia deles se manifesta, para poder ajudar os nenéns a superar essa fase é o mais importante de tudo.

    Eu li muito sobre isso, pesquisei, pedi ajuda para pessoas que netendem do riscado. Com toda informação em mãos tomei algumas atitudes que me fizeram sentir mais tranquila quanto a isso, tanto em relação a minha angústia quanto a dela. Se sua amiga se interessar posso até escrever algo para você mandar para ela.

    Agora ando até com vontade de voltar a trabalhar !

    Beijos
    Lys

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  2. Oi Patrícia! somente hoje consegui ler o blog, estava seguindo a risca a minha lista de berçários a visitar, agora terminei a peregrinação e já escolhi o melhor para nós.
    Adorei o texto! vc captou tudo do momento que estou vivendo, muito sensível e direto.
    A culpa ainda não passou e creio que vai piorar quando o fatídico dia de retorno ao trabalho chegar. A pergunta que fica é: será que vale a pena este sofrimentos para ambos? quero acreditar que sim, pelo menos para minha sanidade mental, não que ficar com ele não seja uma delícia, mas com o tempo a saída do mercado de trabalho iria me pirar.
    Ontem mesmo, antes de fechar com a escola escolhida ainda estava em dúvida se ficava com a escola ou procurava babá. Conversei com algumas pessoas e o mais racional novamente é a escola, mas subjetivamente eu sentia um pouco mais confortável em deixá-lo em casa sem enfrentar a saída e as doençinhas que fatalmente vão acontecer. Mas em se pensando em toda a segurança, o estímulo e a certeza de estar seguindo uma rotina de atividades diárias na escola me fizeram optar por ela.
    Quanto ao trabalho, ontem também recebi uma proposta de ir pra outro setor, muito mais tranquilo, providência divina ou não, será bem mais fácil para mim sair no horário, um estímulo a mais pra voltar!

    Lys, me interessei sim pela sua contribuição no tema, pode me mandar se puder.

    Grande abraço,
    Gicela.

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