sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O simples no cotidiano

Não é sobre o simples doméstico, que está mais complicado que atinga caderneta do seu Joaquim da padaria, é sobre o desuso e a descrença das conversas simples, a troca de ideias sem nenhum carater científico ou sobre "dicas" aprendidas por tentativa e erro. Sobre o juntar dois mais dois, o dia a dia, o cotidiano que tanto nos ensina, mas que teimamos em buscar respostas nas pesquisas e não na troca de experiências. Por que isso?
Chego a triste conclusão que estamos cada vez mais solitários e não trocamos com o outro nossas experiências, recitamos verbetes intelectuais e fórmulas de sucesso, palavras jargões, frases de efeito, mas e o que  a nossa experiência do dia a dia, onde fica?
Por esses dias fui visitar uma amiga que está com um bebezinho de alguns meses. O pequeno chora ao mamar e minha amiga também, mas por dentro. Visivelmente ele tem um desconforto e por mais que ela fale com o pediatra, esse profissional a diz para acalmar o bebê. Bem.... eu lá, dei meu pitacos, claro, baseados no que vivenciei. E em toda a nossa conversa ficou muito em pauta a ausência da simplicidade nas soluções e o isolamento social ao qual cada vez mais nos impomos. Sim, nos impomos....
Essa minha amiga me contou que seu filhinho estava ficando um pouco assado, trocaram de pomada algumas vezes e.... nada. Aí, outra amiga "palpiteira", disse a ela para colocar maizena sempre que houvesse a troca de fraldas. Bingo! A boa e velha conhecida, a dica simples, mas nada "científica", ou produzida por algum laboratório farmacêutico. É bem provável que diversos cientistas já devam ter estudado o "poder" da maizena para aliviar assaduras. Devem ter descoberto que o composto tem propriedades x ou y e publicaram uma pesquisa que  confirma essa sabedoria. Afinal os anos e anos nos quais o produto foi eficaz tem que ser comprovado pela ciência, já que o empírico é o empírico e não o científico.
Conversamos sobre tribos em que mães jovens são sempre ajudadas por diversas mulheres da tribo. Sobre a figura do pajé, ou curandeiro, ou mãe antiga, seja lá qual for a sua denominação. Não importa o nome e sim que o papel dessa figura é saber de "algo ou algos" para ajudar e orientar. Tá lá pra quem precisar. Esse é o lugar dessa figura naquele coletivo
Outro exemplo. Vendo o jornal de esportes matutino passou uma reportagem que analisou cientificamente ponto a ponto dos possíveis fatores mensuráveis para os quenianos serem tão excelentes em corridas. Bem... primeiro mostraram a hipótese da altitude de uma cidade da qual saíam mais campeões, depois o fato de terem canela fina e mais um monte de itens que cientificamente foram mensurados e comparados com outros atletas, mas nenhuma dessas hipóteses confirmava qual era o fator principal que dava a esses atletas essa excelência. Por fim mostraram qual era a principal "arma" que os diferenciava. O coletivo. Como assim? Sim, o coletivo. Eles treinam em grupos. Não correm sozinhos. Estão sempre em batalhão. Um dá sentido ao outro para estar lá. Nossa, mas como isso faz diferença na evolução do desempenho? Não dá para mensurar o subjetivo. Um atleta Neozolandês, vendeu tudo que tinha e foi morar no Quênia para treinar lá. Queria aprender com eles o que os fazia tão excelentes. E, esse Neozolandês, obteve o que procurava, a melhora em seu desempenho. O que tinha mudado em sua rotina de treino? Passou a treinar em coletivo. Simples assim! Como a ciência pode medir isso? Fico até imaginando a conversa desse Neozolandês com outros pares de sua terra natal. "Nossa fulano, como você melhorou seu desempenho depois que foi para a África. Me conta qual o segredo? Correr em grupo? Como? Correr em grupo? E como isso faz difernça? Não sei dizer, só sei que faz!