sábado, 7 de abril de 2012

Paradoxo

Durante muitos anos e há vários eu trabalhei na Avenida Paulista esquina com a Rua Frei Caneca - São Paulo -  Brasil (pelas estatísticas que recebo do blogger existem leitores que acessam de outros países,  e também com certeza, nesse Brasil enorme, essas ruas devem existir em cidades). Continuando os parênteses (em algum momento vou voltar ao tema principal, título do texto) adoro a Avenida Paulista e seus arredores. Lá tudo cabe. São muitas as pessoas que circulam e só de olhar para o semblante delas uma enxurrada de fantasias sobre suas histórias de vida se faz presente. É muita diversidade. Vê-se pessoas sozinhas ou em duplas e grupo, adolescentes, amigas conversando, rindo, já vi também chorando, homens de terno e gravata, mulheres de terninhos ou conjunto executivo de saia e blazer, saltos altos em calçadas esburacadas, também mulheres de rasteirinhas, homens estátua para ganhar alguns trocados e moedas, rapazes e garotas com mochilas, os anteriormente denominados hippies,  hare krishnas, muitas lojas, alimentação, shoppings, cinemas, teatro, museu, igrejas, colégios, hospitais, um constante circular de pessoas em apenas, para as dimensões paulistanas, 3km. A vida lá mostra muito movimento, muita diversidade, circulam muitas emoções. Pensemos no hospital: muitas pessoas saem de lá contentes, com sentimentos de esperança e alegria porque a família acabou de ganhar um novo serzinho que nasceu muito bem, está saudável. E outros tantos talvez estejam saindo da visita à UTI totalmente desolados, desesperançados porque a perda de um  ente querido parece próxima. Essas pessoas circulam pela mesma avenida e seus afetos junto. O parênteses não exatamente fechou, mas já comecei a falar um pouquinho sobre o paradoxo (talvez o parênteses nunca tivesse aberto, porque o paradoxo já estava presente). Por que citei a Paulista e sua esquina com a Frei Caneca? Lá eu vivia diariamente o que entendo como um paradoxo. Ia de carro e para entrar e sair do estacionamento da empresa precisa enfrentar essa esquina em que uma legião de pedestres atravessava. Se eu ficasse esperando os pedestres me darem passagem o sol iria se pôr e eu continuaria, ali, esperando (essa esquina não tem farol de pedestres). Então de maneira o mais ou menos agressiva, de qualquer forma era agressiva, eu vagarosamente impulsionava meu carro chegando bem perto dos pedestres até que eles paravam e eu seguia com meu carro. Só que no horário do almoço muitas vezes eu atravessava aquela esquina a pé. Então, como pedestre, eu avançava em direção aos carros que ali queriam virar para que me dessem passagem. Para mim era uma equina na qual eu vivenciava um paradoxo. Eu, enquanto motorista, avançava e "ignorava" os pedestres, e enquanto pedestre, avançava e "ignorava" os carros. Essa experiência me fazia pensar pensar no conceito do paradoxo e como ele fazia parte em muitos momentos do dia. Só que por alguma defesa não se menciona ser paradoxal, mas com conflitos . . . . o que não anula o fato de ser um conflito. Qual a diferença entre paradoxo e conflito? Todos admitimos que o conflito é parte do dia a dia do humano. Mas e o paradoxo?
Mães e pais vivem diariamente com o conflito na educação e nos sentimentos em relação aos filhos. Ao mesmo tempo que são afetuosos, carinhosos e compreensivos, também são enérgicos, duros e muitas vezes nada democráticos. É um paradoxo, é um conflito. O interessante é que usar a palavra conflito torna muito mais suave, mais aceitável do que se sentir paradoxal. O paradoxo mostra a necessidade de se posicionar, pois não é aceitável, na lógica, que dois sentimentos contratórios, ou duas idéias contraditórias possam conviver, co-habitar em uma mesma pessoa. Já o conflito parece uma "briguinha" de idéias que com o tempo se resolverá. Recentemente estudei com uma colega um texto sobre a comunicação entre dirigentes e subordinados. O texto era um paradoxo só, mas que tentou com toda a lógica acessível provar sua proposta: que os dirigentes são os grandes vilões na dificuldade da comunicação nas empresas. Até hoje me pergunto que parte da realidade aquela argumentação espelhava? O paradoxo parece ser um conceito imóvel, ele tem "a lógica a seu favor". O conflito tem mobilidade, é pensar a respeito, fazer as mudanças necessárias que ele poderá diluir-se. O paradoxo não dilui, ele é. Continuando a  exemplificar com o texto que estudei com minha colega, havia em determinada parte da defesa de que os dirigentes usavam da comunicação como ferramenta de poder e dominação e instalavam em seus subordinados uma desvalia que os reforçava a continuar a se submeter à dominação dos dirigentes. Discutimos muito, através de uma visão particularmente pessimista, que o sadismo, o egocentrismo e o narcisismo são do humano e os jogos corporativos nada mais são do repetição de anos de história, de movimentos humanos, mas em outra época, com outra roupagem, outro cenário. Mas será que por "concluirmos" isso a "problemática" em questão não tenha solução? Não sabemos, as relações humanas são complexas, o ser humano é complexo e a tentativa de simplificação disso tira a essência de sua característica que é a complexidade. Complexo . . . . como resolver o paradoxo? Sua essência parece ser exatamente a não solução. O conflito pede solução e o paradoxo o que pede? Será que é compreensão e integração ao humano? Minha pretensão não é dar solução a esse aparente "enigma", mas propor reflexões, e muito menos pretendo ser lógica. Acredito que no paradoxo, que por definição exige lógica, a maneira de integrá-lo a nosso humano não é através da lógica, mas da intuição. O paradoxo é parte do humano, da existência pessoal e global e existem experiências e sentimentos que vivenciamos nos quais a lógica não é aplicável. "Apenas" devemos sentir e perceber que aquilo, aparentemente meio estranho, é parte de nós. Será que tudo tem que ter uma resposta cabível no que hoje entendemos como lógica? A integração de algo tão próprio do humano é importante e dar o devido respeito à sua complexidade é ótimo. Somos tão mais amplos do que a dita lógica tenta nos reduzir.