domingo, 25 de dezembro de 2011

Segurança 100% . . . tem como?

No dia natal, as crianças estão brincando com os presentes que ganharam na véspera . Minhas filhotas também ganharam seus presentes e, dentre eles, uns "meio perigosos": uma pediu um patinete e a outra um par de patins. Como hoje o politicamente correto é garantir a segurança total dos filhos, cada uma ganhou junto ao seu tão desejado presente um kit "segurança" . . . . capacete, joelheira e cotoveleira. Inclusive, Feliz, quando pediu seu patinete disse que esse kit era importantíssimo, pois eu não iria querer que ela de maneira alguma se machucasse (palavras dela). Apesar de eu achar um exagero não iríamos querer o rótulo de displicentes, que não se preocupam com a segurança dos filhos, então seguimos a "tendência" mundial. Estávamos na pracinha vendo-as equilibrarem-se em suas novidades do natal quando avisto uma outra criança, de aproximadamente uns 4 anos, vindo com sua provável bicicleta nova com rodinhas e, além disso, um acessório de segurança . . . . um capacete. Fiquei me perguntando: será que é preciso toda essa parafernália? Será que o menino, já com as rodinhas, ainda precisava do capacete? Ao mesmo tempo olhava para minhas filhotas e os tombos que levaram foram todos de bumbum. Ou seja, o kit não "protegeu", não haviam "bumbunzeiras". Claro que acredito em vários equipamentos de segurança, o cinto de segurança em carros, as cadeirinhas para crianças, afinal o carro atinge velocidades elevadas e os impactos podem não só machucar mas também levar a óbito. Mas para brincar, para viver o dia a dia, será que é necessário tudo isso, será que dá para garantir que nada sairá errado, que não haverão arranhões e machucados? O que me preocupa não é só o exagero, mas como esse cerco de segurança ilusória pode desenvolver adultos medrosos, que tem medo de arriscar, que tem medo de viver se as coisas não estiverem 100% dentro do esperado, dentro do "adequado". Para mim por trás de toda essa parafernália estamos dando outra mensagem, que emocionalmente pode ser muito mais danosa do que arranhões ou braços quebrados. Será que com esse exagero de segurança não estamos transformando nossas crianças em pessoinhas infantilizadas emocionalmente? Pessoas que vão acreditar que algo do externo estará sempre pronto a lhes proteger e por isso não amadurecem, não conseguem desenvolver um acreditar em si mesmo para arriscar e, caso se machuquem saibam cuidar de si mesmas, levantar, sacudir a poeira e continuar. Acredito que a sociedade de hoje está infantilizando muito o ser humano, incentivando-o a olhar e acreditar no que vem de fora e consequentemente ignorar o de dentro. Acreditar em si mesmo é coisa do passado, hoje temos que acreditar nos equipamentos. Para ilustrar: dá para imaginar as ginastas olímpicas treinando de capacete, joelheira e tornozeleira?
Sempre que eu assisto uma apresentação dessas me dá muito frio na barriga quando vão dar aqueles mortais, aquelas piruetas, saltar no cavalo . . . . fico imaginando não só o quanto treinaram mas o quanto de coragem e segurança em si mesmas desenvolveram para se  "aventurarem" em tais exercícios. E os artistas do circo de soleil . . . . será que nos proporcionariam espetáculos tão lindos e interessantes se ficassem aprisionados pela segurança e seus kits? Quantos jovens hoje, ao se formarem, desejam trabalhar na empresa X ou Z porque é "segura", está há anos no mercado de trabalho e é líder a outros tantos. Será que esses jovens entram nessa empresa porque se sentem profissionalmente maduros para contribuir ou porque querem um porto seguro já que sua segurança em si mesmo é deficiente? Na vida temos poucas certezas (se é que temos alguma), temos muito mais dúvidas e incertezas, só que o imaginário social está tentando a fórceps derrubar uma das poucas certezas que o ser humano pode ter . . . . si mesmo.